segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Faces, de John Cassavetes


Como extrair um espaço qualquer de um estado de coisas dado? Talvez seja este o problema que Cassavetes não cansou de se colocar, através de um cinema do rosto. Toda uma história dos modos de existência, das escolhas, das falsas escolhas e da consciência da escolha, que preside as séries que se multiplicam em Faces. Toda uma cidade marcada por espaços desconectados e personagens perambulantes, em planos-paisagens. O diretor, pai do cinema independente americano e criador de uma estética despojada, sempre afirmou que o grande tema dos seus filmes é o amor. Seus personagens querem amar, mas são impedidos pelas circunstâncias, pelos problemas do dia-a-dia, pela rotina do casamento, pelos sentimentos conflitantes de medo, inveja e paixão, pelos impulsos sexuais muitas vezes desastrados, pela incapacidade total diante de um mundo que excede. Em Faces, o desmoronamento da conjugalidade é o fio condutor de um ataque constante às instituições que colonizam a vida e engendram os modos utilitários de relação. Um mapa de afetos, um combate à representação, um mergulho no trágico, as muitas faces da América...

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