segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Bom dia de Yasujiro Ozu

Corredores e aposentos vazios, varais, postes, fachadas de casas, planos gerais de paisagem, entre-casas e entre-planos. “Bom Dia” afirma a incomensurável beleza dos momentos breves e banais que, plenos de novidades, são capazes de sentido e de vida. Uma fina análise da reconstrução japonesa do pós-guerra, com grande amor pelos paradoxos. Ozu vai nos mostrando que se a televisão catalisa o fim da família tradicional japonesa, se impera a desconfiança entre os vizinhos, se há indícios de convulsão social (a aposentadoria, o desemprego, o trabalho informal), se os homens não conseguem mais dizer o que importa, escondendo-se em frases feitas, é justamente o diálogo repetitivo e cotidiano sobre o tempo, que permite ao professor se aproximar da tia de seus alunos, por quem é apaixonado. Pervertendo as tradições e os costumes, é a ingenuidade pueril de uma greve de silêncio que expõe as redundâncias lingüísticas e desarticula a ordinariedade empoderadora dos não-ditos que sustentam uma ruidosa convivência social e inter-geracional. O rigor da depuração do plano cinematográfico, o ritmo encadeante dos planos e seqüências descontínuos, os fatos narrativos levados ao extremo da simplicidade e do anti-dramatismo, a minuciosa composição do quadro, tudo isso geralmente provoca sensações mais do que argumentos. Uma narrativa que é pura ficção, um realismo que é do tempo.

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Escola Nômade : Bom Dia, de Yasujiro Ozu

Memória e Fabulação em 8 e 1/2 de Fellini

Essa obra prima de Fellini põe em questão as condições de criação da obra de arte em geral e do cinema em especial. É uma busca crítica pelo modo de exprimir o essencial da vida na obra de arte que a reinventa, destruindo o supérfluo. Um diretor em crise se aventura pelo mundo caótico de suas paixões e dos tempos vividos que o atravessam, os quais se misturam com as demandas não menos caóticas, as vezes frágeis, outras oportunistas, de pretendentes a um papel no filme e mesmo na vida: imagens e signos de desejos submetidos a vontade de reconhecimento dos personagens que também o assediam mendigando atenção para se sentirem partes da existência. As instituições da igreja, da família, do dinheiro e do poder também são invocadas como clientes obscuros cometendo ingerências no resultado da obra e se insinuando perversa e cinicamente no ato de criar. Enfim, uma obra que procura reencontrar a fonte e a força inspiradora da criação nos acontecimentos que fazem a vida brilhar e retomar sua inocência e sua capacidade de amar e jogar afirmativamente o jogo da reinvenção dos modos de viver.

Cinema Nômade

O Cinema Nômade é um movimento de pensamento crítico-criativo, que se realiza por meio de exibições de filmes selecionados pelo potencial desconstrutivo da subjetividade, do corpo e do pensamento estabelecidos, gerando tendências criativas de novos territórios existenciais e novos modos de viver e pensar através da produção de sensações inéditas. Também cria ressonância das práticas da Escola Nômade além do seu círculo de associados e participantes diretos. Evento aberto, gratuito, itinerante e mensal (primeira sexta-feira de cada mês).

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Meu tio da América, de Alain Resnais

Memória e Vida


No entrecruzamento da etologia, das ciências da vida e do cérebro e das determinações sócio-culturais dos modos humanos de viver, Resnais opera uma desconstrução singular dos mecanismos cerebrais de conservação, memoria e imaginação. Esta desconstrução se exprime na montagem do filme e se concretiza no embaralhamento das séries ou histórias, que se imbricam em interfaces múltiplas de espaço-tempo, fazendo com que o tempo cronológico e sucessivo perca o seu caráter dominante e ponha em ação, através do uso da linguagem e dos modos sócio-culturais de produzir signos, as dimensões temporais que coexistem e concorrem para as instâncias decisórias de um indivíduo, grupo ou sociedade.



Meu Tio da América


Ficha Técnica

França, 1980, VHS, cor, 125'
Direção: Alain Resnais
Roteiro: Jean Gruault
Fotografia: Sacha Vierny
Elenco: Gerard Depardieu, Nicole Garcia, Roger Pierre, Pierre Arditi
Prêmios: prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes de 1980; prêmio Fipresci; indicação ao Oscar na categoria de melhor filme estrangeiro em 1981.

Escola Nômade

Em foco: Estão abertas as inscrições para o segundo semestre de atividades da Escola Nômade. Acesse a página com a programação completa Acesse o VideoBlog com Luiz Fuganti



Cinema Nômade: Em 09 de novembro de 2007 aconteceu, no Espaço Unibanco à rua Augusta, em SP, a 22ª edição do Encontro Aberto de Cinema Nômade com o filme: Santiago, de João Moreira Salles - sempre com entrada franca para os convidados do Cinema Nômade. Inscreva seu e-mail na lista para receber os convites do Cinema Nômade. Veja também as fotos dos últimos encontros e participe do fórum de discussão de cinema. Como vocês já sabem, o Cinema Nômade é um evento aberto, gratuito, itinerante e mensal, que ocorre toda primeira sexta-feira de cada mês, às 20hs.



Cursos: Dando continuidade à série de encontros mensais intensivos do Curso Pensamento e Clínica do Desejo, ministrado por Luiz Fuganti, será realizado o 14º encontro, excepcionalmente na terça-feira do feriado, dia 20 de novembro de 2007. Este curso, formado por quatro atmosferas, está abordando a natureza, o desejo e o inconsciente; a potência em ato - a produção do corpo; a captura do desejo e sua autonomia e as linhas de fuga (programa completo). Os dois últimos encontros estão previstos para os dias 9 e 15 de dezembro. Há possibilidades de participar de aulas avulsas: todos os encontros estão sendo gravados e filmados. O telefone para contato é 8175-7423.



Grupos de Estudos: A Escola Nômade realiza dois tipos de Grupos de Estudos: Grupos de Estudos Orientados, que são conduzidos sob orientação específica e têm como conteúdo um pensador e uma obra determinados. Os Grupos de Estudos Multi-coordenados têm interface direta com os laboratórios e possuem uma composição plural, tendo como foco os temas que relacionam diversas obras e pensadores.



Multiteca: A dvdteca está crescendo, graças à colaboração de muitos que estão presentes no movimento, com obras de diretores como Pasolini, Resnais, Tarkowski, Welles, Antonioni, Kubrick, Lynch, entre outros. Nosso acervo está disponível aos associados da Escola Nômade.



Como se relacionar com a Escola Nômade: Para uma primeira aproximação, você pode registrar-se neste site, visitar nossa programação e agenda, e participar de nossos eventos abertos. Você pode ainda freqüentar cursos, grupos de estudos e os laboratórios, dispor de nossa multiteca e interagir com este portal. Para participar mais ativamente, contribuir e compor conosco este movimento, você pode se associar à Escola Nômade de Filosofia.



Manifesto da Escola Nômade: A Escola Nômade de Filosofia é um movimento de pensamento livre, desvinculado de qualquer institucionalidade, seja de princípio racional, moral ou religioso. É um movimento que apreende o pensar como potência de acontecimento e criação, livre de qualquer fundação pela Forma. Sendo necessariamente imanente à natureza, esse pensamento é, portanto, inseparável de uma ética afirmativa do corpo, sempre ativo e em devir...



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Ciclo de Projeções e Estudos do Cinema Documentário


Curadoria: Alessandro G. Campolina

O afrouxamento dos limites entre ficção e não-ficção, os novos estatutos da alteridade e a multiplicação dramática das vozes que atravessam a estética áudio-visual fazem com que os debates em torno da problemática do cinema documentário sejam cada vez mais urgentes.

Além de ter sido a “locomotiva estética” que abriu passagens para as experimentações de diversos cineastas brasileiros, o documentário é um dos gêneros, cuja participação crescente nas salas de exibição tem sido mais notória, na atualidade.

Cinema de resistência e de vanguarda, o documentarismo se constitui cada vez mais como um terreno de hibridizações, de poéticas mistas e de ultrapassamento do perceptível e do memorável.

Assim, a compreensão dos processos agenciados pelo documentário torna-se imprescindível para pensarmos os territórios fronteiriços do cinema contemporâneo, em suas complicações com a produção de realidade.

Objetivos
1. Definir procedimentos de leitura das imagens e da linguagem do cinema documentário; 2. Construir consistências conceituais que permitam pensar o lugar e a influência deste cinema nas transformações da experiência sensível do tempo e do espaço; 3. Abrir espaço para experiências implicadas no cotidiano e no fazer dos participantes 4- Estabelecer conversações sobre a importância da atenção aos processos agenciados pelo cinema, articulando redes de discussão, produção e distribuição de documentários.

Conteúdo programático do Módulo I (2007):
1- O Documentário e Seus Modos

Apresentação e texto “Que tipo de documentários existem?” (09/10/2007)

2- O Documentário Expositivo

Texto: “A estética do documentário clássico” (16/10/2007)

Filme: Nannok do Norte (13/10/2007)

3- O Documentário Observativo

Texto: “O cinema direto” (23/10/07)

Filme: Caixeiro-viajante (27/10/2007)

4- O Documentário Participativo

Texto: “Uma janela e um farol” (06/11/2007)

Filme: Jaguar (14/11/ 2007)

5- O Documentário Reflexivo

Texto: “A invenção de uma escrita documental” (20/11/2007)

Filme: O homem com uma câmera (24/11/2007)

6- O Documentário Performático

Texto: “Entrevista com a diretora Sandra Kogut” (04/12/2007)

Filme: Noite e Neblina (04/12/2007)

7- O Documentário Poético

Texto: “Eu é outro: documentário e narrativa indireta livre” (11/12/2007)

Filme: Koyaanisqatsi (08/12/2007)

Estratégia
1- Seminários de discussão de referenciais teóricos, após leitura prévia de textos selecionados, acompanhados de apresentação de trechos de filmes que ilustrem os temas discutidos, com atenção tanto para os conteúdos como para os elementos da linguagem cinematográfica.

2- Exibição e discussão, aberta ao público, dos filmes selecionados para compor o ciclo.

3- Avaliação da experiência de debate com o público, por parte dos participantes do grupo de estudo.

Destinado a: todos os interessados em pensar o lugar do cinema na contemporaneidade.

Número de participantes: 10 a 20.

Local e Horário: sede do MIS Campinas às terças 19hs e sábados às 16hs.

Rua Regente Feijó, 859 - Centro
Atendimento previamente agendado telefone: (19) 2116-0806
Horário de funcionamento: 2ª a 6ª, das 9 às 17h

Bibliografia de referência

1
-Bill Nichols. Que tipo de documentários existem? In: Introdução ao documentário. Ed. Papirus, Campinas, 2005. P. 135.

2- Da-Rin Silvio. A estética do documentário clássico. In: Espelho partido: tradição e transformação do documentário. Ed. Azougue, Rio de Janeiro, 2006. p. 71.

3- André Parente. O cinema direto. In: Narrativa e modernidade. Ed. Papirus, Campinas, 2000.p. 110.

4- Amir Labaki. Uma janela e um farol. In: Introdução ao documentário brasileiro. Ed Francis, São Paulo, 2006. p.59.

5- Da-Rin Silvio.A invenção de uma escrita documental. In: Espelho partido: tradição e transformação do documentário. Ed. Azougue, Rio de Janeiro, 2006. p. 71.

6- José Carlos Avellar. Entrevista com a diretora Sandra Kogut. In: Um passaporte húngaro [DVD]. Videofilmes, Rio de Janeiro, 1997.

7- Francisco Elinaldo Teixeira. Eu é outro: documentário e narrativa indireta livre. In: Documentário no Brasil – Tradição e transformação. Ed. Summus, São Paulo, 2004. p.29.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Cinema Nômade

Encontros Mensais de Pensamento e Cinema
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O Cinema Nômade é um movimento de pensamento crítico-criativo, que se realiza por meio de exibições de filmes selecionados pelo potencial desconstrutivo da subjetividade, do corpo e do pensamento estabelecidos, gerando tendências criativas de novos territórios existenciais e novos modos de viver e pensar através da produção de sensações inéditas. Também cria ressonância das práticas da Escola Nômade além do seu círculo de associados e participantes diretos. Evento aberto, gratuito, itinerante e mensal (primeira sexta-feira de cada mês).


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domingo, 18 de novembro de 2007

Hibridações de cinema e clínica

Uma das tendências do cinema contemporâneo tem sido marcada por hibridizações que atravessam diversos modos e poéticas audio-visuais, ultrapassando até mesmo o campo da arte. Neste espaço-tempo, estarei percorrendo os limiares movediços que conectam e disjuntam os multiversos do cinema e da clínica. Inicialmente mapearei territórios, multiplicando suas vozes e afirmando o descentramento deste mundo singular. Num mesmo tempo, já estarei criando condições para que as tecnologias de rede sejam imediatamente suporte, produção, exibição e distruibuição dos acontecimentos emergentes.