segunda-feira, 25 de maio de 2009

Cinema Nômade com Scorcese

A Nova York dispersiva é vista pelo retrovisor das lentes lentas do filme-fluxo de Scorcese. Táxi Driver é a balada-catálogo de todos os clichês psíquicos, todos os “chichês óticos e sonoros” da cidade-néon. A multidão perdendo os seus contornos, tornando-se necessidade de fuga, desconstrução do espaço, invenção de novos territórios sub-urbanos, extra-ações e infra-ações que esgarçam a fibra nervosa que encadeia as ruas, os personagens, os acontecimentos. Sem totalidade, mas com imagens flutuantes, é o acaso que se torna o único condutor. Toda uma série de “boas intenções” fadadas ao fracasso. Travis convida uma rapariga para uma saída e leva-a a um filme pornô. Travis quer ser amigo de uma prostituta menor e acaba por assustá-la. Travis hesita entre se matar e cometer um crime político. Como se os acontecimentos não lhes dissesse mais respeito, como se as ruas não lhes tivesse mais pertença, como se as irregularidades do trajeto não lhes fosse mais acidentes, como se as geografias das esquinas não lhes determinasse mais o itinerário, como se o que se julgava monotonia nunca deixasse de ser criação e como se onde só se via sempre “repetição”, nunca deixasse de ser diferença...



domingo, 3 de maio de 2009

Cinema Nômade com Jim Jarmusch


Dead Man é a história da viagem física e espiritual, de um jovem, num território hostil e selvagem. William Blake (Johnny Depp) viaja para as mais longínquas fronteiras do oeste americano, perdido, gravemente ferido e, perseguido por pistoleiros, encontra um nativo americano chamado "Ninguém", que acredita que Blake seja na realidade o poeta inglês. Belíssimo road movie do oeste, com problematizações de existência e ritmo hipnótico, moldurado por paisagens deslumbrantes de tempos quaisquer. Dead Man, tornou-se uma obra-prima por re-inventar um gênero, que já tinha sido explorado a exaustão, um western sensível, misterioso e filosófico.


Cinema Nômade com Orson Welles


Algo de essencial na e da natureza é pratica de simulacro! Haveria então algo de natural no humano enganar que inviabilizaria o bem e as boas intenções sempre punidas? Poder de trapacear e mentir? Ou então a própria trapaça e mentira como fontes de poder? E se a Verdade, o Original, o Modelar fossem as trapaças supremas? O gosto pela mistificação, a eleição da verdade como acesso ao real, pode ser a primeira grande mentira, a grande trapaça universal investida com garantia de lucro certo: aquela dos homens de bem, os justos e os verídicos, que desperta seus guardiões, os experts no raro, no belo, no original, no verdadeiro! Quem precisa de experts? Quem precisa da verdade? Quem em nós a cultiva? E o que realmente queremos ao cultivá-la? Não será melhor trapacear para controlar e ganhar com o que nos ameaça? Poderia a cópia tornar-se melhor que o original? E o original, poderia não ser reconhecido pelo seu criador? Experts enganados pela potência do simulacro?
A obra de arte, assim como nossos modos de vida e o que investimos, vale aquilo que pode tornar-te! Para que então serviria o verdadeiro? Para que e para quem então serviriam a mentira? a trapaça? o engano? o embuste?

Coma na mágica, a trapaça, a mentira, o poder desfocam, desviam, simulam: captura de atenção para despejá-la sobre um foco improvável. Mas pronto para emergir como polarizador e tornar-se o centro das atenções capturadas, ganhando existência, sentido e valor a partir delas. O desejo que se engana, se deixa enganar, se opõe ao desejo de verdade? Pra que serve a verdade? Quem em nós quer fazer a diferença em relação ao que nos ameaça? Não é o mais duradouro e triunfante dos passes de mágica destacar parte do real como universal? Não seria mesmo a eleição da Verdade como critério de valor, o maior de todos os embustes?
Um copiador: artista ou falsário? o que vale um original? o que vale uma cópia? Quem avalia em nós? Quem avalia por nós?

Verdades, mentiras, embustes, trapaças, mas um só e mesmo acontecimento implacável: tudo retorna sobre o investidor - a verdade, a trapaça, a mentira, o embuste - tudo isso tem um motor: o desejo que se implica e modifica no querer, nesse devir!