terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Mágico, de Sylvain Chomet


“Os mágicos não existem”, mas a magia insiste... Com uma descrição magistral das várias paisagens por onde os encontros se desenrolam, os caminhos de dois personagens vão sendo construídos, na medida inexata em que suas vidas se modificam. Um mágico a procura de trabalho e uma garota encantada com suas peripécias decidem viajar... O novo trabalho de Sylvain Chomet, adaptado de um argumento de Jacques Tati, é um confronto com a realidade ilusionista da vida moderna, um questionamento dos modos asfixiantes do contemporâneo, uma fuga da insuportabilidade do cotidiano... O consumo, o espetáculo, o sonho, o tédio, a fadiga e a indiferença são apenas alguns dos fantasmas que impedem a vida de encontrar as dimensões mágicas do existir... A produção de sentido é antes o próprio sentido da magia. O sorriso, a dança, a brincadeira, o amor, os muitos mundos possíveis de uma criança... Para isto, os mágicos ainda consistem.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Tio Boonmee que pode recordar suas vidas passadas, de Apichatpong Weerasethakul

Tio Boonmee é uma renovadora problematização do tempo, a partir da espiritualização contemplativa da imagem cinematográfica, que examina a produção da memória em suas qualidades de registro e de potência infinita de repetição. Desconstruindo os mecanismos imaginários e ficcionais da subjetivação, Apichatpong nos propõe o ultrapassamento da consciência, em um mergulho profundo no virtual, enquanto fonte contínua de acontecimentos inéditos, imanentes à natureza. Questiona a alteridade, a busca cega de sentido, o finalismo do contato cósmico e místico, a humanização de outras formas de vida e a impossibilidade da coexistência de múltiplos tempos na duração. É de um deslocamento do pensamento recognitivo da memória que estamos diante... Confrontando a desqualificação da dor, a negação da velhice e a cultura da morte, é em direção a uma zona de indiscernibilidade do amor, da natureza e do pensamento, que somos lançados.