segunda-feira, 7 de março de 2011

Poesia, de Lee Chang-Dong


O corpo de um cadáver boiando no rio, enquanto crianças brincam na margem. A dor da perda provocada pelo corte dos laços de convívio. A morte, a cultura do luto, a mudança para uma cidade distante, a câmera acompanhando o sentido implacável do fluxo temporal... O roteirista e diretor coreano Lee Chang-Dong afirma: "Ao crime, eu terminei aqui superpondo a história da idosa que descobre que sofre de Alzheimer. É uma situação dolorosa, a certeza de que vai mergulhar no esquecimento, que vai perder o vínculo com a realidade. Ela reage inscrevendo-se num curso de poesia." A sexagenária Mija trabalha como empregada doméstica, cuidando de um senhor que sofreu um derrame, e do emporcalhado neto Jong Wook. Mija está ao tempo todo se questionando o que é poesia, e descobrindo que o poético não é necessariamente sinônimo de belo. Mija percebe que a beleza está nas coisas simples da vida, como observar a natureza ou degustar uma maçã, momentos em que se pode contemplar o ritmo lento da narrativa, as tomadas longas, as imagens ou os silêncios... Sem otimismo ou pessimismo, “Poesia” explora os caminhos éticos da experiência dramática de afirmação do trágico: o escândalo da morte, a expulsão do campo psicossocial. Para Mija, talvez a arte seja a única forma de esquecer a morte, redimir o passado e se abrir para o futuro. Pela faculdade do esquecimento e pela prática da estética tem início o aprendizado da idade, a poesia trágica e renovadora do envelhecimento.

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