segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Cinema Nômade com Tinto Brass


Em uma formação social despótica romana, um corpo intenso, uma natureza que salta, um pensamento alegre na destruição. Extraindo humor das práticas de maldade como dispositivo provocador e redisponibilizador das forças de um corpo social decadente, que apodrece e se desmancha lascivamente. Caligula se constrói num meio cujo horizonte constitutivo oscila entre a trapaça covarde da existência impotente e a traição paranóica. Cruel? Louco? O Terror em pessoa? O arbítrio aterrador em estado puro? Uma necessidade implacável de fazer comandar o Imponderável e fazer de si um Destino, se fazer Divino! Em um meio no qual os poderes de rebaixamento da vida triunfam a cada complô!
O erotismo como dispositivo que escancara um diagrama de forças, catalizador de afetos que escapam ou são capturados no tecido de um corpo pleno despótico. O sexo hipostasiado em práticas eróticas que fazem explodir o desejo como linha de fuga, glorificando o gozo nos modos de investir e destruir os lugares de poder. Calígula, déspota e escravo que está em nós? Vemos brotar nesse meio traços e tendências que se repetem em um regime de autoridade e que constituem o cinismo moderno das nossas sociedades. O épico-erótico de Tinto Brass reflete a gênese da nova aliança de comando do desejo com a Transcendência nas figurações teatrais e plásticas do fazer do déspota: a filiação direta com Deus transfigura e transporta a relação com um fluxo germinal intenso. Uma adestramento dos esfíncteres, uma retenção de fluxos, uma transgressão incestuosa. Eis o modo Calígula-Estado paranóico e despótico.