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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

CInema Nômade, com Murnau


Aurora (Sunrise)
1927, EUA, 95min
Direção: Friedrich Wilhelm Murnau

Quando pode acontecer de, na vida, perdermos de um só golpe a cabeça, o corpo e o chão (ou superfície)? Não será no lance mesmo pelo qual ganhamos um rosto desejável, com sua estética uniforme de falsas multiplicidades e nos inserimos, rosto e roupagem, em uma nova paisagem que, de tão fantástica, é impossível habitar? - um desterritório feito cidade? Acontecimento fatal e inevitável para a emergente vida urbana em sua condição de troca generalizada que faz de toda relação de sociabilidade uma trapaça? No instante em que zonas móveis, voláteis e sem causa imaginável nos façam alçar vôo com as asas da sedução e tecem um plus de poder...ah...e nos prometem aquele gozo a mais sem o qual não faz sentido viver!...mas sem a consistência para o vôo da potencialização necessária! deliramos então e sonhamos de olhos abertos, flutuamos em utopias, fantasias, ilusões, ficções...

O desejo pode encontrar a ocasião de mal-encontrar-se! De ser arrancado de seus ritmos mais lentos ou mais velozes, quando disperso, desatento e descontinuado, entrecortado e banalizado pelo cotidiano rasteiro e sem surpresas, deixa-se seduzir pelo fantástico quimérico, quando carente precisa do que promete sem comprometer-se.

E quando nos damos conta...chegamos a nos dar conta realmente? Retomada de si, do outro em nós, de nós no outro, o que ainda poderia significar? Um resgate do amor por arrepender-se ou por conquistar um modo extra, único e necessário de fruir o acontecimento da existência e a experiência de si na relação com o outro? Um devir, feito de devires e de combates que quebram todos os espelhos, - pois afinal o que pode, mais do que os espelhos, tudo achatar e tornar míseras miríades com suas falsas profundidades, sem real profundidade nem duração, esta essência rara do tempo de que é feita a vida? (Luiz Fuganti)

Data: 18 de novembro de 2011 às 20h00

Local: Oficina Cultural Oswald de Andrade

Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro - São Paulo - SP (11) 3221-5558 / 3222-2662


REALIZAÇÃO

Ponto de Cultura Movimentos Nômades de Cultura / Escola Nômade de Filosofia


APOIO

Oficina Cultural Oswald de Andrade


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Cinema Nômade, com Alain Resnais


Hiroshima, meu amor

Um deslocamento radical na percepção da existência por força de um amor; outro foco, outro móvel move então o desejo; lances de tempos por vir e já passados brotam do toque suspenso das peles que ardem e derretem, e por entre os corpos que duram e se dilatam, vozes inauditas emergem, sentidos interrompidos reverberam, intensidades esmagadas ressurgem dos labirintos de tempos soterrados, subterrâneos da infamia misturados ao extraordinário da vida, entalados, engolfados, sufocados; sussurros de tempos vividos, gemidos dobrados; murmúrios dos movimentos raros e do insuportável esquecidos; memórias inconsoláveis, acontecimentos indigeríveis, fazendo retornar sempre esse algo de indestrutível... insalubres retornos, morredouros da confiança ou movedouros das causas profundas da corrosão da confiança e da força dos afetos mais nobres...?

Hiroshima, meu Amor (Hiroshima, mon Amour)
1959, França/Japão, 90min
Direção: Alain Resnais

Data: 21 de outubro de 2011 às 20h00

Local: Oficina Cultural Oswald de Andrade

Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro - São Paulo - SP (11) 3221-5558 / 3222-2662

Entrada Franca

Ponto de Cultura Movimentos Nômades de Cultura

escolanomade.org

Oficina Cultural Oswald de Andrade


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Cinema Nômade, com Ingmar Bergman


Cinema Nômade

Exibição de filme, Exposição de idéias e Conversações


SARABAND, de INGMAR BERGMAN

"Testemunha a colheita abortada do ódio secretado pelos meios desarranjados de um familialismo doentio, de vidas que se perdem na vontade de fruir 'valores' passionais, libidinais, materiais, comandadas por fantasmas oniricos, eróticos e teológicos....

O que podemos nos tornar ou fazer de nós mesmos...depende do modo de vida que somos capazes de inventar...Depende da qualidade do objeto ao qual nosso desejo adere pelo amor e nosso pensamento é capaz de valorar. E quando apenas padecemos da existência, ressentindo todo acontecimento e gemendo com a crueldade que a vida descarrega sobre nós, quando vivemos como sombras, ausentes de nós mesmos... quem vive em nós? Quem vive por nós? O que fizemos de nós, de nossa potência e de nossas forças? O que deixamos que forças do fora fizessem com nossa existência e nos precipitassem em um destino abissal só então tornado irreverssível e fatal?"

Local: Rua Wanderley, 145, Perdizes, São Paulo/SP

Data e horário: 01.09.11 às 20h30

Entrada Franca!


escolanomade.org / equipe@escolanomade.org / 11 3862 4234 - 8175 7423 - 6406 9075


quarta-feira, 27 de julho de 2011

Cinema Nômade, com Alain Resnais


Exibição de filme, Exposição de idéias e Conversações

Muriel do diretor Alain Resnais

"Memórias trituradas, corpos sem suprefícies, movimentos quebrados ... descontinuidades afetivas,
desencontros ... o continuum de um fundo intenso que insiste em retornar, insistência do imponderável
em vias de se perder na inconsistência de um presente esvaziado de sentido que intensifica o vivo..."

Local: Rua Wanderley, 145, Perdizes, São Paulo/SP

Data e horário: 28.07.11 às 20h30

Entrada Franca!

terça-feira, 22 de março de 2011

Cinema Nômade com Godard



Exibição e Debate: Godard "Masculino-Feminino"
Nesta 5ªfeira - 24 de março de 2011 às 20h00

Último evento deste ciclo do Jean-Luc Godard!

Local: rua Wanderlei, 145, Perdizes, Sp.
O evento deste mês não será realizado na Escola Nômade.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Cinema Nômade com Godard

exibição e debate
Diálogos e problematizações acerca de obras cinematográficas

Próximo evento: sexta-feira, 17/12/2010 às 20h00
Exibição do filme: Week-end à Francesa, de Jean-Luc Godard
Um filme em que Godard expõe a banalização de alguns modos sociais com muito humor.
Local: rua Arruda Alvim, 112 (a meia quadra da estação Clínicas do Metrô)
*Entrada Franca*

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Cinema Nômade com Godard

exibição e debate

Diálogos e problematizações acerca de obras cinematográficas

Próximo evento: sexta-feira, 17/12/2010 às 20h00

Exibição do filme: Week-end à Francesa, de Jean-Luc Godard

Um filme em que Godard expõe a banalização de alguns modos sociais com muito humor.

Local: rua Arruda Alvim, 112 (a meia quadra da estação Clínicas do Metrô)

*Entrada Franca*

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Cinema Nômade com Francis Ford Copolla


Rumble Fish (peixe de combate), filme de Coppola renomeado na tradução brasileira como O Selvagem da Motocicleta, traz a superfície o problema das vidas de uma juventude encurralada numa atmosfera urbana própria para enfraquecer, capturar e tornar o desejo dependente. O motor abstrato da sociedade, o capital e suas trocas esterilizantes e niveladoras, se insinuam como pano de fundo de uma tragédia urbana. Vidas em busca de motivos que tornem o existir interessante, em contínua variação; uma procura desesperada pelas zonas relacionais de intensidade manchadas por uma paisagem povoada por trapos humanos. Os meios de diferenciação, os dispositivos de combate, as conquistas de modos intensivos de ser, tudo isso escapa a tipos que só encontram prazer ou saída na vida em dissolução, nos afetos que ao preencherem-na operam como entorpecimento, como desvio de si e resposta às dores e sofrimentos intoleráveis e sem sentido, exceto o de fazerem o homem se render, cansado e sem pespectiva, ao conformismo generalizado dos impotentes, de uma sociedade fraca. Vivos aos trapos, separados da capacidade de situarem-se num campo fatídico de forças trituradores de desejos e portanto longe de verem-se cúmplices e/ou protagonistas de usas cadeias e tomados de dentro como elementos do próprio problema que os coage. Territórios em decomposição servem de arapucas, orquestradas imperceptivelmente por linhas de força daquele poder que faz das paixões tristes o maior de todos os negócios, o negócio dominante que quer se fazer passar por vida, mas que não pode fazê-lo sem rebaixá-la, sem vergar e substituir a vida intensa, como uma pálida lembrança da vida, como narcótico e esquecimento maior da própria morte em vida. Para modos impulsivos de viver impõe-se criar expressividade a todo o custo, traçando linhas mortíferas de fuga. Mas então só resta o confronto, a desistência, a morte. O jovem da motocicleta difere, intempestivo e precipitador. Vislumbra linhas de fuga que ele mesmo, pessoalmente, já não pode mais traçar. Rasga no fundo cinza de uma humana natureza morta, criando uma paisagem de cores à qual já não pode mais juntar-se. (Luiz Fuganti)

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Cinema Nômade e Jean Rouch


O cineasta e etnólogo Jean Rouch fez quase todos os seus 120 filmes na África, aonde chegou aos 24 anos como engenheiro de estradas. Rouch põe em xeque as noções de ficção e realidade. Sobre Eu, um Negro, rodado na Costa do Marfim, ele diria: Sabia que iríamos mais fundo na verdade se, em vez de termos atores, as pessoas interpretassem a própria vida. O filme segue um grupo de amigos que vive de biscates. Aceitando a proposta de Rouch, cada um imaginou ser um personagem, inventou uma história, encenou-a pela cidade e depois, assistindo às cenas captadas (sem som), recriou as falas que havia improvisado. O tempo não desfez em nada a força desse filme. Tampouco amenizou o impacto de Os Mestres Loucos, rodado em Gana. Num cruzamento desconcertante de religião, história e individualidade psíquica, o filme mostra uma seita cujos membros, em transe, personificam figuras do colonialismo inglês. No auge do ritual de possessão um animal é sacrificado e comido pelos "mestres loucos" - trabalhadores imigrantes que logo retomarão seu cotidiano sem mistério. São 26 minutos em que não despregamos os olhos da tela.

domingo, 28 de junho de 2009

Cinema Nômade com Jean Rouch

Jean Rouch (Paris - 31 de Maio de 1917, Niger - 18 de Fevereiro de 2004), é o fundador do cinema verdade. Como cineasta e etnólogo, explora o documentário puro e a docuficção criando um subgênero: a etnoficção. Cineasta de extrema importância que extrai uma matéria notável de pensamento para todos aqueles que estão preocupados em problematizar os modos humanos de existir desde as formas ditas primitivas até os modos contemporâneos de viver, e a coexistência e atravessamento das diversas culturas, etnias e valores.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Cinema Nômade com Scorcese

A Nova York dispersiva é vista pelo retrovisor das lentes lentas do filme-fluxo de Scorcese. Táxi Driver é a balada-catálogo de todos os clichês psíquicos, todos os “chichês óticos e sonoros” da cidade-néon. A multidão perdendo os seus contornos, tornando-se necessidade de fuga, desconstrução do espaço, invenção de novos territórios sub-urbanos, extra-ações e infra-ações que esgarçam a fibra nervosa que encadeia as ruas, os personagens, os acontecimentos. Sem totalidade, mas com imagens flutuantes, é o acaso que se torna o único condutor. Toda uma série de “boas intenções” fadadas ao fracasso. Travis convida uma rapariga para uma saída e leva-a a um filme pornô. Travis quer ser amigo de uma prostituta menor e acaba por assustá-la. Travis hesita entre se matar e cometer um crime político. Como se os acontecimentos não lhes dissesse mais respeito, como se as ruas não lhes tivesse mais pertença, como se as irregularidades do trajeto não lhes fosse mais acidentes, como se as geografias das esquinas não lhes determinasse mais o itinerário, como se o que se julgava monotonia nunca deixasse de ser criação e como se onde só se via sempre “repetição”, nunca deixasse de ser diferença...



domingo, 3 de maio de 2009

Cinema Nômade com Jim Jarmusch


Dead Man é a história da viagem física e espiritual, de um jovem, num território hostil e selvagem. William Blake (Johnny Depp) viaja para as mais longínquas fronteiras do oeste americano, perdido, gravemente ferido e, perseguido por pistoleiros, encontra um nativo americano chamado "Ninguém", que acredita que Blake seja na realidade o poeta inglês. Belíssimo road movie do oeste, com problematizações de existência e ritmo hipnótico, moldurado por paisagens deslumbrantes de tempos quaisquer. Dead Man, tornou-se uma obra-prima por re-inventar um gênero, que já tinha sido explorado a exaustão, um western sensível, misterioso e filosófico.


Cinema Nômade com Orson Welles


Algo de essencial na e da natureza é pratica de simulacro! Haveria então algo de natural no humano enganar que inviabilizaria o bem e as boas intenções sempre punidas? Poder de trapacear e mentir? Ou então a própria trapaça e mentira como fontes de poder? E se a Verdade, o Original, o Modelar fossem as trapaças supremas? O gosto pela mistificação, a eleição da verdade como acesso ao real, pode ser a primeira grande mentira, a grande trapaça universal investida com garantia de lucro certo: aquela dos homens de bem, os justos e os verídicos, que desperta seus guardiões, os experts no raro, no belo, no original, no verdadeiro! Quem precisa de experts? Quem precisa da verdade? Quem em nós a cultiva? E o que realmente queremos ao cultivá-la? Não será melhor trapacear para controlar e ganhar com o que nos ameaça? Poderia a cópia tornar-se melhor que o original? E o original, poderia não ser reconhecido pelo seu criador? Experts enganados pela potência do simulacro?
A obra de arte, assim como nossos modos de vida e o que investimos, vale aquilo que pode tornar-te! Para que então serviria o verdadeiro? Para que e para quem então serviriam a mentira? a trapaça? o engano? o embuste?

Coma na mágica, a trapaça, a mentira, o poder desfocam, desviam, simulam: captura de atenção para despejá-la sobre um foco improvável. Mas pronto para emergir como polarizador e tornar-se o centro das atenções capturadas, ganhando existência, sentido e valor a partir delas. O desejo que se engana, se deixa enganar, se opõe ao desejo de verdade? Pra que serve a verdade? Quem em nós quer fazer a diferença em relação ao que nos ameaça? Não é o mais duradouro e triunfante dos passes de mágica destacar parte do real como universal? Não seria mesmo a eleição da Verdade como critério de valor, o maior de todos os embustes?
Um copiador: artista ou falsário? o que vale um original? o que vale uma cópia? Quem avalia em nós? Quem avalia por nós?

Verdades, mentiras, embustes, trapaças, mas um só e mesmo acontecimento implacável: tudo retorna sobre o investidor - a verdade, a trapaça, a mentira, o embuste - tudo isso tem um motor: o desejo que se implica e modifica no querer, nesse devir!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Cinema Nômade com Hal Hartley


Enfim, Maria se dá conta de que há algo de confiável em Matthew: “ele é perigoso e sincero. Hal Hartley nos dá um retrato realista dos modos de subjetivação independentes, modos de existência singulares que produzem corpo a partir do abandono das roupagens justas do senso comum. Se existe um combate, não é o dos vencidos contra os ganhadores, mas de todos os clichês que contracenam com as linhas de fuga que afirmam o ser em sua heterogênese. Em um pólo de captura, são corpos e atitudes teleguiados por uma força de homogeneização, compondo na tela uma uniformidade chapada: mães que odeiam seus filhos, pais ressentidos que despejam sua culpa, perversos panoptizando por fascinação histérica. Mas uma granada faz circular o potencial de explosão deste estado achatado de banalidades. Que se possa acioná-la a qualquer momento, basta recuperar a crença no acontecimento, basta optar pelo trágico, basta confiar e conseguir entregar-se por inteiro.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Cinema Nômade com Rossellini



Stromboli por uma miséria terrível demais... Stromboli por uma dor intensa demais... Stomboli por uma beleza grande demais... Rosselini cartografa a ilha de Stromboli com o olhar estrangeiro que revela o mais profundo de uma violência para a qual não há mais ação possível. Planos sucessivos fazem um duplo movimento de criação e apagamento. A ilha ou a terra devastada é repetidamente preenchida por naturezas mortas de personagens cristalizados no limite de situações que excedem. O porto, a pesca, a tempestade, a erupção vulcânica... Uma situação-limite : a gravidade da pesca, o abismo da banalidade, a inanição existencial. Stromboli é um mapa de afetos, território e fissura de uma Europa que convulsiona imóvel diante do inominável da guerra. “Estou acabada, tenho medo, que mistério, que beleza, meu Deus” Stromboli é a tensão disruptiva que arrebata o pensamento com a exterioridade impensável do que só pode ser pensado.

sábado, 22 de novembro de 2008

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Cinema Nômade com Tinto Brass


Em uma formação social despótica romana, um corpo intenso, uma natureza que salta, um pensamento alegre na destruição. Extraindo humor das práticas de maldade como dispositivo provocador e redisponibilizador das forças de um corpo social decadente, que apodrece e se desmancha lascivamente. Caligula se constrói num meio cujo horizonte constitutivo oscila entre a trapaça covarde da existência impotente e a traição paranóica. Cruel? Louco? O Terror em pessoa? O arbítrio aterrador em estado puro? Uma necessidade implacável de fazer comandar o Imponderável e fazer de si um Destino, se fazer Divino! Em um meio no qual os poderes de rebaixamento da vida triunfam a cada complô!
O erotismo como dispositivo que escancara um diagrama de forças, catalizador de afetos que escapam ou são capturados no tecido de um corpo pleno despótico. O sexo hipostasiado em práticas eróticas que fazem explodir o desejo como linha de fuga, glorificando o gozo nos modos de investir e destruir os lugares de poder. Calígula, déspota e escravo que está em nós? Vemos brotar nesse meio traços e tendências que se repetem em um regime de autoridade e que constituem o cinismo moderno das nossas sociedades. O épico-erótico de Tinto Brass reflete a gênese da nova aliança de comando do desejo com a Transcendência nas figurações teatrais e plásticas do fazer do déspota: a filiação direta com Deus transfigura e transporta a relação com um fluxo germinal intenso. Uma adestramento dos esfíncteres, uma retenção de fluxos, uma transgressão incestuosa. Eis o modo Calígula-Estado paranóico e despótico.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Cinema Nômade com Alain Resnais

O Ano Passado em Marienbad

O Ano Passado em Marienbad, ou o lugar e o acontecimento de um encontro decisivo... Um cinema tornado registro seletivo, inclusivo, pura repetição da diferença. Uma involução nos estratos mais profundos da memória é o que nos propõe Alain Resnais. Uma descontinuidade de séries que concorrem para um mesmo acontecimento é o que nos apresenta Robbe-Grillet. Séries simultâneas que se dão a cada retorno, várias vezes, para a construção de uma cena, uma decisão. Vou com ele, não vou com ele? É sempre o encontro que decide. A música fúnebre embala uma grande repetição. O esquecimento de marcas e o esquecimento de futuro. Entre o acontecimento e o lugar, um novo limiar. É da superfície do acontecimento que se faz memória no cinema de Resnais e de Robbe-Grillet; é de um horizonte de futuro, que redime o passado, que se faz com que o inabalável retorne, criando a decisão, que é movimento do porvir. O império de um presente atual estará para sempre questionado na imagem cinematográfica: foi no ano passado, de um lugar qualquer, em Marienbad, onde uma vez mais e sempre se perde. Ou será “ao longo destes corredores, através destes salões, estas galerias, nesta construção de um outro século, este hotel imenso, luxuoso, barroco, lúgubre”?. Ou foi “no parque deste hotel, uma espécie de jardim à francesa, sem árvores, sem flores, sem vegetação alguma”? Ou é então, “ao longo das aléias retilíneas, entre as estátuas de gesto fixo e as lajes de granito, onde você estava agora na iminência de se perder, para sempre, na noite tranqüila, sozinha comigo”.