domingo, 3 de maio de 2009

Cinema Nômade com Orson Welles


Algo de essencial na e da natureza é pratica de simulacro! Haveria então algo de natural no humano enganar que inviabilizaria o bem e as boas intenções sempre punidas? Poder de trapacear e mentir? Ou então a própria trapaça e mentira como fontes de poder? E se a Verdade, o Original, o Modelar fossem as trapaças supremas? O gosto pela mistificação, a eleição da verdade como acesso ao real, pode ser a primeira grande mentira, a grande trapaça universal investida com garantia de lucro certo: aquela dos homens de bem, os justos e os verídicos, que desperta seus guardiões, os experts no raro, no belo, no original, no verdadeiro! Quem precisa de experts? Quem precisa da verdade? Quem em nós a cultiva? E o que realmente queremos ao cultivá-la? Não será melhor trapacear para controlar e ganhar com o que nos ameaça? Poderia a cópia tornar-se melhor que o original? E o original, poderia não ser reconhecido pelo seu criador? Experts enganados pela potência do simulacro?
A obra de arte, assim como nossos modos de vida e o que investimos, vale aquilo que pode tornar-te! Para que então serviria o verdadeiro? Para que e para quem então serviriam a mentira? a trapaça? o engano? o embuste?

Coma na mágica, a trapaça, a mentira, o poder desfocam, desviam, simulam: captura de atenção para despejá-la sobre um foco improvável. Mas pronto para emergir como polarizador e tornar-se o centro das atenções capturadas, ganhando existência, sentido e valor a partir delas. O desejo que se engana, se deixa enganar, se opõe ao desejo de verdade? Pra que serve a verdade? Quem em nós quer fazer a diferença em relação ao que nos ameaça? Não é o mais duradouro e triunfante dos passes de mágica destacar parte do real como universal? Não seria mesmo a eleição da Verdade como critério de valor, o maior de todos os embustes?
Um copiador: artista ou falsário? o que vale um original? o que vale uma cópia? Quem avalia em nós? Quem avalia por nós?

Verdades, mentiras, embustes, trapaças, mas um só e mesmo acontecimento implacável: tudo retorna sobre o investidor - a verdade, a trapaça, a mentira, o embuste - tudo isso tem um motor: o desejo que se implica e modifica no querer, nesse devir!

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