terça-feira, 8 de setembro de 2009

Transcinemas

Divididos em duas partes, os 37 textos que compõem este livro — precedidos de uma introdução de Katia Maciel, que procura definir o termo transcinemas, proposto por ela para abarcar as novas situações de cinema em que superfícies híbridas de luz e movimento se conjugam com a participação e a imersão dos espectadores — representam, em suas inter-relações, um amplo e fundamental panorama do que tem sido elaborado nos últimos anos por muitos dos mais importantes teóricos e artistas ligados ao tema no Brasil e no mundo.

Poucos anos após o seu surgimento, o cinema se consolidou numa de suas formas de exibição, caracterizada, em termos gerais, por ocorrer numa sala cuja arquitetura se assemelha à do teatro italiano, por envolver a projeção de uma imagem em movimento e por adotar uma narrativa influenciada não só por modificações na estrutura do romance literário, como também pelo desejo socialmente disseminado de ver outros lugares sem a necessidade de se deslocar. Suas outras formas pioneiras, em especial os panoramas e suas galerias de atrações, obscureceram-se sob a hegemonia de tal modelo estético, em torno do qual se ergueu uma poderosa indústria de entretenimento.

O cinema, contudo, sempre foi experimental, ou seja, sempre foi um campo de pesquisa definido por questões formais que retomaram, nas montagens inauguradas por sua linguagem, princípios da fotografia, da pintura, do teatro e da literatura. Como tornar móvel a imagem e como enquadrá-la? Quais os modos de projetá-la? De que maneiras integrar ao que é exibido cor, som e profundidade? Que tipo dc participação se espera do espectador?

Ao longo dos anos, portanto, mantiveram-se ou conformaram-se linhas de investigação. cujos efeitos têm sido reelaborados pela presença de novas possibilidades tecnológicas surgidas desde o início do século XX. Cinema experimental, arte do vídeo, cinema expandido e cinema interativo agrupam importantes momentos de transformação do dispositivo cinematográfico, e suas produções, cada vez mais, espalham-se por museus, galerias de arte, universidades e, sobretudo, casas. Instalado em espaços expositivos, reproduzido em leitores domésticos, acessado na internet ou mesmo projetado nas salas tradicionais, o cinema hoje se move em inúmeros caminhos, recriando, de maneira intensa, os modos pelos quais vemos e experimentamos tanto o mundo quanto a nós mesmos.

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