MARQUESA DE Ó
Eric Rohmer nos propõe um vaivém entre palavras e imagens. Falsamente teatral e falsamente literária, sua obra arranca da linguagem uma certa afasia: o ato de fala como fundador, como fabulador é que funda o silêncio no falado e que faz deste cinema, um cinema mudo. Com "A Marquesa de O" mais uma vez é o corpo feminino que sofre fragmentações. É em nome de um pudor que não existe, que a verdade precisaria então de muitos disfarces, invertendo valores que seriam intoleráveis: é você, marquesa, que está grávida de sua própria consciência. Em um de seus provérbios, Rohmer diria que só escolhe bem aquele que é escolhido. A efetiva escolha, que consiste em escolher a própria escolha, é suposta retornar e dar-nos tudo. É por isso que ela contribui para que ao abandonar da noiva, ele nos seja entregue por inteiro: "Eu a amo de forma sublime, extraordinária. Eu a amo. Não é uma simples inclinação." Os enquadramentos obcecantes da "Marquesa de O" são mais um dos modos com que Rohmer irá fazer da câmera uma consciência formal ética capaz de nos levar a uma imagem indireta livre do mundo e, ao mesmo tempo, a um ponto comum entre o cinema e a literatura. Mas não seria isto mesmo o que constitui o estatuto singular da imagem áudio-visual moderna: uma dissociação do visual e do sonoro, em heutonomia e incomensurabilidade? A imagem visual e sonora estão, enfim, em uma relação muito especial: relação indireta livre que não se propõe o menor todo
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